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sábado, 5 de novembro de 2011

MANIAS

                                                                                                                 Eduardo Almeida
Fique tranqüila(o), cara(o) leitor (a): se você não as tem, melhor para você.  O maníaco é quem sofre, porque tem que se conter.

            Eu particularmente adoro manias, não as doentias ou que beiram essa área, mas aquelas que lhe deixam atento, vivo, preocupado e manter valores bons.
Não consigo pegar um telefone que esteja com o fio todo enrolado ou um teclado de computador da mesma forma, sem antes desenroscar o fio. Uma letra genial do falecido Flávio Cavalcante (o qual eu não morria de amores) falava, num saudoso samba-canção, das manias que todos nós temos. Eu tenho a mania de observar comportamentos e analisar o que seria “politicamente correto” para uma vida coletiva mais fácil. 
Você já fez, por exemplo, no banheiro público ou da empresa, a pesquisa do papel-toalha? Quem está melhor vestido ou ganha mais é quem usa uma folha, no máximo duas para enxugar as mãos e/ou o rosto. Na proporção inversa da renda, aumenta o desperdício. Aí, a minha mania é imaginar se esse sinal é causa ou conseqüência. O papel-toalha, quem costuma economizar – no caso, está poupando árvores – é quem se deu bem na vida. É mais ou menos o que acontece com quem tem a incrível mania de conversar na porta ou no corredor, atrapalhando os que querem passar. Não são exatamente os que administraram com menos resultados a própria vida? 
Já fui chefe por alguns anos e fazia esse tipo de observação para contratar alguém. Quem cortava unha em público ou se penteava idem, perdia pontos. Falar alto, limitar a conversa a futebol, piadas grosseiras e programas de TV, também ia desclassificando. Claro que fumar era quase eliminatório. Às vezes eu me enganava, havia contratado alguém que usava o vaso sanitário e não puxava a descarga,ou descobria tardiamente, que o novo repórter usava ‘disponibilizar’, ‘agilizar’, ‘fazer uma colocação’, ‘vivenciar’ e asneiras semelhantes.
                Enfim, manias.
O maníaco (a nova linguagem politicamente correta chamaria de portador de idiossincrasias )é quem sofre, porque tem que se conter. Veja como padeço com garçons que me servem cerveja, evitam a espuma e fico sem saber se é xixi ou cerveja. Para que a espuma não apareça só no meu estômago, tenho que passar a cerveja para outro copo para formar a camada branca que protege o sabor. Além disso, trazem o raio da bebida estupidamente gelada e, como se sabe, moléculas em temperatura baixa demais não emitem sabor, isto é, odor. 
Mas não é só isso. Se estou tomando o chopp, não me permitem o prazer de me servir quando eu julgar que é o momento e na quantidade que acho conveniente. Se viro para conversar com alguém, como num passe de mágica já tem outro copo ali cheinho me esperando, num gesto de imposição terrível que alguns bares principalmente de Aracaju adotaram essa prática. Metem-se num dos mais prazerosos  rituais da vida.
Enfim, nós, maníacos, sofremos. Imagine que você está esperando o elevador – e, obviamente, já o chamou – e aparece do seu lado alguém que o julga um néscio e ele o mais esperto do mundo, porque aperta de novo o botão. Não satisfeito, aperta dos dois botões. Você e ele vão descer. Aí, o elevador, que está subindo, para inutilmente e você perde seu tempo. Será que é só mania irritar-se com alguém que ainda não aprendeu a operar um meio de transporte que surgiu na metade do séc. 19? Sem falar quando o sistema não é de fila única e os espertos pulam na sua frente assim que a porta abre, tomando de assalto seu direito que você adquiriu ao aguardar pacientemente o elevador e sem a presença dele ali. 
Poucos sabem, mas o sistema de fila única existente hoje no Edf. Cidade de Aracaju foi de minha autoria e iniciativa o projeto, decorrente da minha indignação e raivas que ali passei e resolvi tomar uma atitude. Um problema a menos em nossa sociedade, entre outros que resolvi porque tive atitude com coisas que me  incomodavam na sociedade onde vivo e não deixei pra lá.
                Certa feita, eu estava num hotel no Guarujá à beira-mar, admirando as modelos que eram fotografadas para uma matéria da revista Playboy. No almoço, na mesa ao lado da minha, elas seguravam os talheres como um ferreiro empunha um martelo, ou melhor, como um pedreiro segura sua pá. Por culpa das minhas manias, meu entusiasmo pela beleza das moças foi pelo ralo. Quando elas saíram, já não me surpreendi enquanto arrastavam o chinelo, tentando encerar o chão, creio eu. Mas o pior é quando você encontra no banheiro masculino o assento do vaso todo molhado. O cidadão não se dignou a levantá-lo antes de fazer xixi. E quantos saem sem lavar as mãos? Por causa disso, sigam meu exemplo, colegas: a única folha de papel-toalha suficiente para enxugar as mãos, também se usa para não se contaminar na maçaneta, ao deixar o banheiro.
Uma das minhas manias prediletas é escrever sobre tudo que vejo.  
Não é uma mania saudável?
Fico por aqui...já fiz a minha parte!

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