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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

ESTOU FICANDO VELHO OU MADURO? MAIS VELHO É QUEM ME DIZ!

Dizem que vida começa aos 40. A minha não! A minha começa todos os dias quando acordo. Idade é convenção dos homens. O que importa é tempo e todo tempo é importante.
Fico impressionado com a mudança de valores que esse começo diário me traz. O que antes me roubava a atenção literalmente e movia meus impulsos freneticamente na busca de conseguir, hoje, revistos esses desejos, vejo que não preciso mais deles ou talvez, nunca os tenha precisado, ou ainda precisei deles naquele momento para fazer parte da minha evolução. As inutilidades que desejei me fizeram ver hoje que não necessitava delas, continuando assim o ciclo da evolução.
Agora, no início da minha década de meio século, procuro menos problemas - ou nenhum deles! - usando da máxima que a sabedoria consiste na antecipação das consequências, mas não perdi a minha capacidade de me indignar, não sou da turma do “deixa pra lá”. Isso é visto e adjetivado pelas mentes omissas e limitadas como “encrenqueiro”. Atualmente quero escrever minhas experiências de vida seja em um livro autobiográfico ou em um blog, criado por mim para desabafos. O pré-lançamento da biografia de meu Pai - Comandante Walmir Almeida -, meu grande herói, foi um sonho que sustentou durante anos esse romântico que a escreveu.
Pessoas? Seres humanos? Entrego-me ao voyeurismo e adoro observá-las, cada vida uma história, desde que em uma quantidade razoável e não aos milhares ou milhões de uma só vez. Bares? Ainda gosto e muito, desde que tenha algo mais do que a cerveja que eu procurava e sim uma muvuca eduacda, boa música ambiente e tira-gostos variados e sem contar que o público ao redor seja próximo ou igual à minha idade, para não ter que escutar comentários como “tiozinho, tem horas aí?”. Não acho legal pessoas não adequadas à idade, não que a idade seja uma sentença de morte, mas querer ser cocota com idade avançada leva a certos ridículos. Sem contar que podem me achar um pedófilo. Continuo gostando de bares, mas hoje, daqueles que nos permitem conversar sem ter que esgoelar sua fala para ainda assim o ouvinte entender errado. Shows? Ainda gosto, mas não espremido nas grades que separam o artista da galera e sim em um camarote, mesmo que em pé, ao lado de uma boa turma e de uma bela companhia feminina.
Ainda me entrego ao prazer de ficar em casa ou de quebrar um caranguejo, não por fazer parte do calendário que diz que tal dia é destinado a isso e conversamos mais do que saboreamos. Hoje saboreio lentamente entregando-me à terapia de quebrá-lo e degustá-lo ao lado de uma boa conversa. Cerveja? Antes só não bebia acetona porque tirava o esmalte dos dentes e o que obrigatoriamente teria que ser feito com uma roda de amigos, hoje igualmente saboreio ao lado de poucos amigos ou de uma única companhia que me supra com uma boa conversa e me livre de extrapolar meu limite por não querer dizer tchau aos amigos ou até me leve a quebrar meu limite. Essa boa companhia pode ser eu mesmo!
Mulheres? Meus hormônios, apesar de ainda em alta, não querem mais apenas aquele corpinho daquela gatinha gostosa que povoava meus sonhos de adolescente e sim horas de conversas embasadas e inteligentes que nos façam refletir se realmente precisamos de relógio. Hoje não preciso mais daquele sexo acrobático da juventude que quer impressionar. Prefiro até pensar muito mais na parceira que em mim mesmo. Uma cumplicidade nata e inerente aos grandes e verdadeiros amantes, uma admiração suprema, entre outros mimos. Sou um romântico incorrigível por opção e posso ser considerado um pervertido nos dias de hoje, pois ter um relacionamento monogâmico e estar satisfeito com essa opção pode ser considerado uma perversão, já que o certo hoje é ser errado. Ainda desfruto da minha companhia com excelência. E adoro!
Carro? Se for para ser aquele liquidificador que eu desejava ter quando adolescente, com a suspensão rebaixada que faz trepidar até a alma, prefiro anda a pé(juro!). Hoje prefiro um carro “esporte fino”, sem ser esporte demais e sem ser “carro de coroa.”. Se bem que, devido a um acidente no paraquedismo que prejudicou minha coluna, por obrigação médica me acostumei a andar a pé por longas distâncias e a gostar disso, desfrutando de paisagens que antes não apreciava pela velocidade do veículo.
Revista Playboy? Ainda as coleciono fielmente e guardo-as com esmero, logicamente após apreciar a beleza plástica das lindas mulheres, mas deliciando-me sobretudo nas inteligentes e diversificadas matérias, ao contrário da adolescência, quando muitos sequer sabiam que haviam matérias naquela revista. Blocos de carnaval? Isso hoje me cheira a vigorosas pisadas nos pés, machos suados se encostando em mim, beijar bocas que já beijaram outros machos, beber cervejas até cair, mijar em qualquer canto, pois no bloco não se urina, se mija, sem falar nas saudosas lança-perfumes que faziam pinotar até acabar a corda ao som do trio elétrico ensurdecedor. Não deixei de gostar, mas prefiro a calma e a animação de um camarote, minha cerveja gelada, boas e poucas companhias que pedirão desculpas se pisarem no meu pé, banheiro limpo e asseado por perto e outras regalias. Mas não nego pelo menos um dia no bloco, tenho que manter vivas as minhas raízes.
Por do sol? Antes era apenas a fase de transição entre a tarde e a noite onde eu estivesse sentado bebericando. Agora é um momento de contemplação onde me delicio a agradeço à Deus não só esse momento sublime como todas as graças em minha vida, até mesmo pelo simples, ou não tão simples assim, fato de estar vivo.
Irresponsabilidade consciente? Aquela que eu fazia na adolescência, mesmo sabendo estar errado? Hoje troquei por uma responsabilidade consciente, procurando ao máximo evitar problemas e pensando bem antes de fazer algo que traga dissabores, mas uma folga aqui e outra ali vale a pena ser feita, pois o último que andou na linha o trem matou. Viagens? Há muito aposentei meu emprego de caça-festas e dediquei-me a encontrar refúgios calmos e tranquilos ou, mesmo em metrópoles, admirar lugares que tragam paz, boas compras de leituras, boas refeições, a tranquilidade de um chopp, etc.
Esportes radicais? Abandonei-os. Esse continua sendo meu fraco, mas depois do nascimento do meu filho, seleciono mais minhas “radicalidades” com um planejamento prévio de riscos e analiso mais umas dez vezes, redundantemente, procurando afastar qualquer risco que possa deixar meu filho órfão de Pai e eu órfão da sua companhia. Imponho limites, os mesmos que antes queria quebrar a qualquer custo para exercitar minha macheza. Abandonei temporariamente o paraquedismo, o mergulho submarino e as motos de alta cilindrada. Pretendo um dia voltar, assim que meu Dudu esteja encaminhado na vida. Qualquer curiosidade esportiva se tornou minúscula face à curiosidade que tenho de vê-lo crescer e se desenvolver, acompanhando-o, tal qual um artista admira sua obra. Aliás, a minha melhor obra!
Caridade? Dar brinquedos a entidades que supostamente levariam a orfanatos e afins já não faço mais. Hoje dedico-me diretamente nas causas, como quando tive a oportunidade de criar um projeto social em uma favela e ofertava minhas tardes de sábado para o ensino de arte marcial. Gastar dinheiro? Hoje invisto no que seja útil e produtivo, que me traga tranquilidade, massageie minha alma, me faça viver de forma plena e abundante. Acho que chegaram ao fim os dias de gastar dinheiro que não temos, comprando coisas de que não precisamos, para impressionar pessoas que não conhecemos. Religião? Há muito passei da fase de ficar em portas de igreja conversando para que todos vissem eu era religioso, quando apenas frequentava, agora me espiritualizo com as diversas manifestações que Deus me mostra todos os dias, visualizando a beleza de uma estrela, de um nascer e de um por do sol, de um oceano, do sorriso do meu filho, do meu acordar e de muitas outras coisas que não valorizamos por serem rotineiras.
Na verdade, pensei que estivesse ficando velho, mas tranquilizei-me ao ver que estava apenas ficando maduro. Minha mente é hiperativa, não me vejo - e nem me permito! - ser velho. O que antes era imprescindível para mim, hoje não preciso mais, os valores mudaram, não fiquei preso aos de outrora, não tenho compromisso com os erros, eu os refiz, os atualizei, prefiro ser aquela metamorfose ambulante do que ter a velha opinião formada sobre tudo.
Descobri também que não tenho medo de morrer, na verdade nem queria estar presente quando isso acontecer. Tenho pena é de não estar mais aqui nesse mundão e me descobrir cada vez mais, de descobrir as obras de Deus, que são infinitas.
Houve um dia em que alguém surgiu em minha vida e compreendi que era o começo de algo único, dia em que olhei dentro dos olhos desse alguém e pude me ver dentro deles, dia em que eu percebi que alguém realmente me queria, de um modo puro, verdadeiro e diferente dos demais. Houve um dia em que senti minha vida completa e o meu coração repleto de magia e encantamento. Houve um dia em que me senti feliz por querer sem tempo e sem medida, que não precisei usar nenhuma palavra para que pudessem realmente me entender. Houve um dia em que tive a total certeza de finalmente ter encontrado o amor, esse dia foi quando meu filho nasceu!!
A maior obra de Deus em minha vida talvez tenha sido a tarefa de ser pai e mãe de um ser divino que me foi ofertado e a quem jurei amor eterno! Daí tê-lo intitulado de Angelus. Eduardo Angelus. Que significa criatura do paraíso que veio para modificar sua vida. E foi o que aconteceu! Digo intitulado, pois para quem está destinado a fazer história, o nome passa a ser um título. Tenho plena convicção de que um dia Deus perguntará à cada pai e à cada mãe : “O que fizestes da criança que te confiei?”. Nesse dia...quero estar apto a responder!
Em tudo ao meu Dudu serei atento; e antes, e com tal zêlo; e sempre, e tanto!; que mesmo em face do maior encanto; dele se encante mais meu pensamento.”.
Essa, foi a viagem mais importante que fiz em minha vida, a do Eduardo que sonhava ser, ao Eduardo que quero ser!!
É aquela coisa: se estou velho, estou feliz. E...mais velho é quem me diz!!

Eduardo Almeida
Escritor e Patrono da
ALES-Academia de Letras Estudantil de Sergipe

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